Grupo Um - A Flor de Plástico Incinerada (1983) - Completo/Full Album
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Terceiro e último álbum da banda de jazz fusion, lançado pelo selo Lira Paulistana, em 1983.

Texto publicado no encarte da edição do álbum em CD (2010)

A Flor de Plástico Incinerada representa, para os músicos que participaram do Grupo Um, o fechamento de um ciclo. Buscávamos uma música que reunisse a riqueza rítmica da música popular mais elaborada com a linguagem da música contemporânea erudita e acredito que o resultado alcançado neste disco mostra isso. Para este trabalho, contávamos com a presença de músicos excepcionais, como o pianista e clarinetista alemão Felix Wagner e Regina Porto, com sua voz quente e fria ao mesmo tempo (o timbre rico e cheio e a entonação austera), ideal para narrar o texto de Luiz Nazario. Além destes, o disco marcava também o início da colaboração de Teco Cardoso como flautista e saxofonista, em substituição ao excepcional Mauro Senise. Tivemos também a colaboração de dois dos melhores engenheiros de som, Edgard Gianullo Filho e Sergio Kenji Okuda, que faziam milagres no pequeno estúdio JV, cujo dono era um amigo muito generoso, o compositor Vicente Salvia. Como de costume, gravávamos em poucas sessões e a mixagem era feita a oito mãos (ou dez, ou doze, dependia de quantas mais coubessem no console...). Neste tipo de mixagem em que não tínhamos nenhuma automação, alguns detalhes acabavam se perdendo, apesar de todo o cuidado. Felizmente, nesta nova edição, consegui trazer de volta alguns desses detalhes que estavam escondidos na mixagem original, principalmente na música-título “A Flor de Plástico Incinerada” que é dividida em duas partes: a primeira fala de um mundo desumano, estéril e sem perspectivas, onde a beleza só restaria na visão do horizonte ao longe... Esse mundo pode ser o nosso num curto espaço de tempo e tudo depende dos caminhos que as novas gerações terão de trilhar para construir uma sociedade diferente deste modelo industrial voraz e massacrante que temos hoje no planeta. A segunda parte traz uma esperança de que este caminho pode ser revertido de alguma maneira – neste caso, preferi escrever uma música mais jazzística com partes mais melódicas e um final bastante energético. Em “Sonhos Esquecidos”, uma balada sentimental, o tema é executado com notação proporcional, sem uma fórmula de compasso definida, mas que tende a se tornar uma valsa nos improvisos do sax alto, baixo e piano elétrico. “Duo”, de Rodolfo Stroeter, é uma composição cheia de efeitos de estúdio colocados sobre o baixo acústico e o sax barítono. Alguns dos efeitos, colocados em cascata num rack, eram acionados pelo próprio som dos instrumentos que desencadeavam uma série de modulações, tudo gravado em tempo real, direto para a fita magnética. Já “ZEN”, cujo nome é formado pelas iniciais de Zé Eduardo Nazario, reflete exatamente isso: o Zé multiplicado por dez, tocando variados instrumentos de percussão de diversas nacionalidades, criando uma míríade de ritmos e cores do mundo. A Flor de Plástico Incinerada mostra esse mundo cheio de cores e ritmos que habitamos, mas também cheio de desigualdade, manipulação política e uma mentalidade industrial selvagem, em que todos os esforços são necessários para que não caminhemos, cada vez mais rápido, para a triste e brutal realidade das flores de plástico.

Lelo Nazario, Maio de 2009

Faixas:

1. A Flor de Plástico Incinerada (I) [Lelo Nazario] 00:00
2. Duo [Rodolfo Stroeter] 06:38
3. ZEN [Zé Eduardo Nazario] 11:22
4. A Flor de Plástico Incinerada (II) [Lelo Nazario] 18:33
5. Sonhos Esquecidos (... para L.C.) [Lelo Nazario] 30:57

Lelo Nazario - teclados, processos eletrônicos
Rodolfo Stroeter - contrabaixos
Zé Eduardo Nazario - bateria, percussão, xilofone
...convidados:
Felix Wagner - clarineta, marimba
Teco Cardoso - sopros
Regina Porto - narração

Áudio/Efeitos especiais - Sergio Shao Lin, Edelho Gianullo
Capa - Lelo Nazario

uma flor ao longe, congelada em seu silêncio
não cresce em parte alguma, não produz néctar nem brotos
é reproduzida em série, uma igual a outra
aos milhões, se for preciso
nenhuma seiva corre dentro dela
a flor de plástico não pediu para nascer
e, por isso, jaz inerte no tempo que não a afeta
inocente em sua violência, ela não morre sozinha
é preciso que a desfaçam para que retorne à humanidade que a criou
num instante de medo
quando o planeta desabitado girar vazio no espaço
a flor de plástico continuará intacta e brilhante
entre os escombros
mas, então, de que lhe servirá existir?
não me inquieta na flor de plástico sua eternidade
mas a cor imaginária das coisas que não têm essência
liberta das estações, ela desafia a natureza
porque é uma afirmação do humano que o nega radicalmente
por isso, eu canto a flor de plástico
e canto a sua destruição

Luiz Nazario
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